Responsabilidade social não é filantropia, mas via de mão dupla | Viviane Martins

Gestão aliada a crédito pode ser única receita de bolo no momento A realidade imposta pela pandemia do covid-19 ao setor empresarial teve proporções mais graves para as micros e as pequenas empresas brasileiras acostumadas a viver com pouco dinheiro em caixa e sem um instrumento de gestão financeira, como o controle de entrada e saída de recursos da empresa. A presidente da Falconi Consultoria, Viviane Martins, fala do tema em uma apresentação feita de forma remota para a plenária da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e, posteriormente, da pelo UM BRASIL.

Na conversa, ela aponta os principais caminhos encontrados pelas empresas neste ano para manter os negócios em funcionamento e diz que, independentemente do porte da empresa, a única saída possível para os negócios está em combinar dois aspectos. “Poucas empresas foram pegas no início dessa pandemia com uma condição de caixa que desse extremo conforto. A grande maioria vem passando muitas dificuldades em relação a caixa, liquidez, e isso tem uma relação direta com a sobrevivência desses negócios. As pequenas e médias, em geral, trabalham com o caixa muito justo e algumas, às vezes, vivem até no cheque especial. A primeira missão de fato é sobreviver, e aliar gestão a crédito é, nesse momento, talvez, a única receita de bolo que se pode ter”, diz. Nesse sentido, a primeira ação recomendada por Viviane está em medir o caixa para saber o tempo de duração dele e, depois, pensar em como reduzir os gastos e avaliar a necessidade de renegociar contratos e buscar linhas de crédito para passar pela pandemia. Mesmo com as mudanças aplicadas por parte das empresas, a especialista fala que a procura de novos canais de atendimento, busca de novos consumidores, por exemplo, como maneiras de lidar com a situação. “Muitas empresas tomaram decisões rápidas revendo os gastos e a estrutura e tudo mais que não fosse absolutamente dispensável porque tempo, mais do que nunca, vale dinheiro. Além de cortar custos, algumas empresas redimensionam a empresa. É preciso tomar as medidas de curtíssimo prazo que assegurem algum nível de entrada de faturamento ao mesmo tempo em que sejam avaliadas a adequação dos canais de venda e até de produtos ou serviços oferecidos. Se antes da pandemia traçávamos metas e avaliávamos o resultado para o ano, com desdobramento mensal, agora, temos de pensar no resultado do mês, com desdobramento semanal”, explica Viviane.

Mudanças A presidente também ressalta que a pandemia mudou alguns hábitos de consumo e a relação de trabalho, ela acredita que algumas transformações serão permanentes, como o avanço do e-commerce que aumentou a comodidade dos novos consumidores que passaram a comprar por plataformas digitais. “Empresas que tinham planos mais lentos de absorção da tecnologia e do comércio eletrônico foram forçadas pelas circunstâncias a acelerarem essas medidas e isso traz uma consequência positiva para o País, porque o crescimento do comércio eletrônico pode abrir espaço para um diálogo mais amplo sobre melhorias que o próprio comércio eletrônico ainda necessita, como na legislação e na infraestrutura”, analisa. No âmbito trabalhista, ela enxerga a implantação emergencial do home-office e da jornada de trabalho reduzida a um ponto crítico para qualquer líder e gestor, o que exerce pressão grande sobre a saúde mental das pessoas. “Houve redução de jornada para muitos, mas nem sempre as atividades foram reduzidas na mesma proporção. Então é preciso recombinar os prazos, as entregas das atividades para não ficar inviável. Além disso, todos estão com dificuldades para equilibrar a rotina diária com o trabalho. Então não acredito nos extremos, que após o fim da pandemia teremos apenas o modelo de trabalho remoto ou presencial, mas nos [modelos] híbridos. A gente experimentou e viu o que funciona, estamos aprendendo algumas lições sobre o que não funciona”, afirma Viviane.